Emília Corrêa (PL) foi eleita prefeita de Aracaju em 2024, prometendo furar a bolha do sistemão. Mas, na prática, o que se tem visto é algo totalmente ao contrário. Chegando a seis meses à frente da prefeitura da capital, ela acumula sinais de que sua gestão segue a velha cartilha da política tradicional, aquela mesma contra a qual ela jurou lutar.
A criação de novas secretarias e a nomeação de aliados para cargos estratégicos, muitos ligados aos irmãos Amorim, foi o primeiro alerta. A promessa de uma gestão enxuta e independente deu lugar à acomodação de grupos e interesses, deixando clara a formação de um governo baseado em alianças típicas do sistema que ela dizia combater.
Mas foi na área da limpeza urbana que a contradição foi ainda mais grave. A crise da coleta de lixo, marcada por um processo licitatório emergencial repleto de irregularidades, expôs de forma escancarada falhas graves na gestão pública da capital.
Em fevereiro de 2025, a Emsurb, vinculada à Prefeitura, lançou uma licitação emergencial para a coleta de lixo. Porém, o processo gerou suspeitas desde o início: as empresas tiveram menos de dois dias úteis para apresentar propostas, limitando a competitividade; a abertura dos envelopes ocorreu em sessão fechada, violando o princípio da transparência; houve divergências nas planilhas de preços apresentadas, sugerindo manipulações; e um documento timbrado da própria Emsurb foi encontrado dentro da proposta da empresa AKSA, indicando possível vazamento de informações internas.
Mesmo com a suspensão determinada pelo Tribunal de Justiça de Sergipe e investigações abertas pelo Tribunal de Contas do Estado, a Prefeitura contratou emergencialmente as empresas AKSA e Renova, ambas sem comprovada capacidade técnica e com histórico de problemas em outras administrações públicas.
O resultado foi o caos: bairros inteiros com lixo acumulado, mau cheiro, proliferação de insetos e risco à saúde pública, tudo isso em plena comemoração dos 170 anos da cidade. Um retrato claro de despreparo e descompromisso com o planejamento urbano.
A prefeita também tem gerado polêmica pelo comportamento nas redes sociais. Em vez de adotar uma postura de gestora pública, tem se portado como influenciadora digital, divulgando “mimos” recebidos, como joias e roupas, o que levanta questionamentos sérios sobre possíveis conflitos de interesse e a conduta ética no exercício do cargo.
A gestão de Emília ainda se associou a uma empresa de apostas para patrocinar festas da Prefeitura, num acordo que carece de clareza sobre contrapartidas e critérios. A dúvida é inevitável: quais interesses privados se beneficiam dessas parcerias?
Com tudo isso, fica claro que, se Emília furou alguma coisa, até agora, não foi a bolha, foi a expectativa de mudança de quem acreditou no seu discurso.